arte pra arquitetura e da arquitetura a arte

Quando era pequeno eu cogitei muito a possibilidade de tentar o vestibular para belas artes. Gostava muito de desenhar e ate tinha feito alguns cursos e aulas, minha tutora foi a Mônica Sartori, me ajudou muito a ver as coisas.

Sabe como é, parar e observar com cuidado. Desenhar e pintar é em sua maior parte isso, não sua habilidade de fazer e executar, não é saber desenhar e sim sua capacidade de olhar e guardar. A gente passa pelas coisas sem ver, está tudo ali, as coisas mais bonitas e as mais feias, mas é preciso saber ver, ter paciência de olhar com cuidado carinho.

Acho que é como se as coisas começassem com a fotografia. O que a fotografia se não a capacidade do fotografo de enquadrar, de separar do todo um pedaço especifico, sua capacidade de descobrir contrastes e tonalidades assim como formas onde as pessoas sem paciência só vêem o todo homogêneo e sem graça. Assim como acredito que o músico não é em geral sua capacidade de tocar, mas sua capacidade de escutar. Pode-se tocar com agilidade e técnica surpreendente, mas só uma pessoa que sabe escutar escolhe as notas e os momentos certos, que realmente comovem que fazem sentido.

Parece meio chato, eu sei, mas acredito que a maior parte das pessoas nunca parou pra realmente escutar uma música com cuidado, sabe quando ela é tão preciosa que você tem de escutar com a luz apagada para se concentrar e que seus pensamentos não podem te atrapalhar nem um milésimo de segundo senão você perde a seqüência perfeita da música.

Bom, mas continuando, eu não escolhi a belas artes, talvez receio, mas tinha muita vontade de fazer arquitetura também e foi isso que escolhi, e não me arrependo porque acredito que posso ser um artista sem fazer belas artes, assim como uma pessoa pode ser um ótimo arquiteto sem ter cursado a arquitetura. (É uma profissão que depende muito do bom senso e da sensibilidade e de ter visão espacial), no entanto, mesmo que por acaso tivesse estas características eu não poderia exercer arquitetura sem o diploma, daí então a tendência forte da minha escolha.

A verdade é que em geral o que eu vislumbrava como arquitetura era diferente do que se esperava pelos professores como arquitetura. Isso gerou muito debate que outro dia pretendo postar aqui, juro são debates interessantes e pertinentes, não sei se estava certo no que eu queria, mas os temas que foram colocados em discussão são polêmicos mesmo. mas o engraçado é que no final, bem lá na banca final mesmo uma das professoras, me disse algo bem interessante, não lembro as palavras exatas, mas primeiro ela revelou algo que eu suspeitava: me disse que era os professores procuravam me reprovar mas não acharam um ponto exato onde fazer isso. A outra revelação era própria dela, disse que se eu queria fazer algo diferente e extravagante como meus projetos não devia arriscar o dinheiro, nem a população como um todo os forçando a viver isso e sim tentar a belas artes onde eu envolvo o mínimo de pessoas possíveis. Acho que estas palavras me fazem um arquiteto um tanto fracassado do ponto de vista acadêmico, mesmo porque não consegui publicar minha pesquisa que envolvia os temas que eu acho mais verdadeiros, um dia posto sobre minha pesquisa aqui. A verdade é que as palavras dela me impulsionaram mesmo pra tentar a pintura acho que devo em parte a ela por me arriscar realmente no campo das belas artes, considerando que não desisti da arquitetura não, só tem sido difícil.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belas artes você produz!!! Emocionante pintura, arquitetura inquientante e atemporal. Manifesto transparente. Você é hiperestésico. Isto é fato!
Obrigada por oferecer aos meus sentidos esta alegria. Gostei muito do que vi, senti e ouvi.
Ana Lima(sua parceira e jamais adversária da esgrima)